Succession - A Construção de Connor Roy
Todo ano de eleição vemos candidatos à presidência que a gente sabe que não tem nenhuma chance, mas mesmo assim eles se candidatam. Nos Estados Unidos não é diferente.
Sempre que você está assistindo a uma primária presidencial, você é apresentado a uma enxurrada de rostos e nomes dos quais você nunca ouviu falar e então, quando você vê que eles estão se agarrando a um por cento nas pesquisas, você naturalmente se pergunta: por que que diabos eles ainda estão nesta corrida? O que levaria uma pessoa a querer permanecer em uma corrida que eles certamente perderiam sem cerimônia? Seria ilusão, vaidade ou outra coisa?
E isso nos leva ao trágico caso de Connor Roy, que pode ter sido abençoado com abundância financeira, mas à custa do isolamento emocional. E ao examinarmos sua vida, uma vida com a qual ele poderia ter feito qualquer coisa, ele não tem nada para mostrar. Mas uma coisa é certa, Connor Roy se interessou por política desde jovem. E o que você pode dar ao garoto que tem tudo? Certamente se tornar presidente dos Estados Unidos não é pedir muito.
Então vamos dar uma olhada mais profunda nos padrões de vida de Connor Roy para entender o que o motiva.
Não importa o que aconteceu em sua vida, parece que Connor Roy nasceu para viver uma existência solitária. Connor é o mais velho dos quatro filhos de Logan, mas também o único filho nascido de uma mãe diferente, tornando-o meio irmão e meio filho único. E ter sido o primogênito não foi fácil, não importa o quanto Logan reivindique que tenha feito tudo o que fez por seus filhos, sua empresa é o verdadeiro filho, do qual ele mais se orgulha, o único filho a quem realmente dedicou sua vida.
Antes mesmo de as outras crianças nascerem, Connor foi deixado para trás com sua mãe sem ver seu pai por três anos completos, porque ele estava muito ocupado. Logan sempre o colocava em segundo lugar, fosse em um telefonema ou uma reunião que o faria se sentir mais como um estorvo do que como um herdeiro de seu trono.
E para piorar a situação, sua mãe, sua única verdadeira cuidadora, foi internada em tratamento psiquiátrico quando Connor era criança, abandonando-o com nada além de pão de ló para acalmar suas necessidades emocionais. Logan teria três filhos com Caroline Collingwood, o que só aumentaria esse sentimento de que Connor foi um erro e que, uma vez que Logan tivesse a configuração certa, ele começaria sua primeira família de verdade. Do ponto de vista de Logan, quem teria mais probabilidade de entregar filhos mais fortes para que ele pudesse treinar para assumir o controle de seu Império? A mãe de Connor, que precisou ser colocada em tratamento psiquiátrico pelo resto de sua vida, ou Caroline, uma aristocrata rica?
E é difícil dizer se foi natureza ou criação, mas há inegavelmente uma diferença entre Connor e o resto dos Roy's. Kendall, Roman e Shiv adoram competir, enquanto Connor é passivo, desempenhando o papel de pacificador na família, sempre querendo que outros tomem decisões por ele. Seus irmãos brincam que ele foi a primeira panqueca, aquela que você acidentalmente estragou antes de acertar o resto do lote.
Connor simplesmente nunca teve aquele fogo nele. Depois de perder a mãe e mal ver o pai, ele se acostumou a apenas pegar o que quer que tenha sobrado. E também esse instinto de sobrevivência básico cria um ciclo de feedback de não ser levado a sério por ninguém da família, porque apesar de ser o mais velho, Logan sempre o tratou como se fosse um garoto.
Como você nunca espera nada dele e nunca confia nele com qualquer responsabilidade real em uma família obcecada por poder e status, Connor é virtualmente invisível. Até quando os outros irmãos confrontam Logan sobre tudo de ruim que ele fez, eles chamam sua atenção por ignorar Connor toda a sua vida. Mas eles não são diferentes.
Mesmo em uma noite que deveria ser só sobre ele, Connor é o que tem menos tempo de tela, enquanto os irmãos conversam insensivelmente sobre negócios bem na frente dele como se ele nem estivesse lá. Ele é sempre um anexo, nunca levado a sério, a ponto de Kendall poder se referir a si mesmo como o filho mais velho de Logan e ninguém pestanejar. Ou mesmo em seu próprio casamento, quando Roman e Kendall recebem a ligação importante, sem nunca perceber eles inconscientemente priorizam encontrar Shiv para que ela possa falar com o pai ao telefone e só depois vão procurar Connor, quando for tarde demais. E, ao contrário de Shiv, ele nunca questiona por que eles demoraram tanto, ele apenas aceita porque é isso que sua vida o condicionou a esperar.
Viver em um rancho deserto é uma metáfora perfeita para a existência de Connor. Sua vida adulta ainda espelha acidentalmente o mesmo padrão de sua infância vendo os outros competindo enquanto ele é deixado para trás em isolamento não sendo uma parte igual da família ou da empresa, ou de qualquer coisa. Ter todo esse dinheiro é uma bênção e uma maldição, porque sem isso ele não seria tão dependente financeira e emocionalmente de sua família e, portanto, poderia se relacionar com as pessoas comuns, já que seria forçado a se envolver em atividades cotidianas.
Mas por causa do dinheiro, ele está sozinho em uma Torre de Marfim vazia com nada além de dinheiro para ajudá-lo a resolver seus problemas. Então não é surpresa que, quando se trata de encontrar o amor, ele não conheça outra maneira de persuadir as pessoas a passarem um tempo com ele, e por isso ele paga pela companhia de Willa. Ela era inicialmente uma garota de programa e, apesar de mal parecer a fim dele no início, Connor torna sua missão mantê-la por perto. Toda vez que ela tenta inventar um desculpa para abandoná-lo como todo mundo em sua vida eventualmente faz, ele encontra uma nova maneira de manter o negócio, como dar a ela uma mesada para financiar seu teatro, ambições e eventualmente até se mudar para Nova York.
Connor não precisa que o amor dela por ele seja autêntico, ele só precisa de um relacionamento consistente em sua vida para que ele possa finalmente se sentir visto. Assim ele tem alguém que realmente depende dele, mesmo que seja apenas financeiramente.
Para a maioria das pessoas, ter alguém respondendo “Que se dane, quão ruim pode ser” para um pedido de casamento seria um obstáculo, enquanto para Connor, desde que ele não tenha que voltar a ficar sozinho, esta é a melhor notícia ele já ouviu. Tendo vivido uma vida de privilégios extraordinários, Connor sabe que o mundo funciona de uma maneira completamente distorcida, pois seu dinheiro sempre permitiu que ele acessasse a linha de chegada enquanto outros tiveram que trabalhar duro para chegar. Então se ele finalmente quer fazer algo com sua vida, tornar-se presidente parece ser o único objetivo pelo qual vale a pena competir, já que quase qualquer outra coisa seria um rebaixamento para ele.
Mas Connor sofre do efeito Dunning-Kruger, ele acredita que o pouco que sabe sobre política seja a informação mais importante. Quanto a ele, seu interesse e conhecimento político parecem notavelmente altos quando comparados a seu interesse ou conhecimento em qualquer outra coisa, mas na realidade não é remotamente competitivo com ninguém que já trabalhou na política antes.
Mas por que Connor quer ser presidente? Ele está envelhecendo e seus irmãos estão se tornando mais realizados, deixando claro que sua vida não teve sentido. Ninguém respeita como ele gastou seu tempo ou como desperdiçou suas oportunidades, o que apenas valida ainda mais a decisão da família de negligenciá-lo. Mas se você se torna um verdadeiro candidato presidencial, então ninguém pode dizer que você não fez nada com sua vida. Isso encobre todos os seus fracassos, e se ele realmente ganhasse, mudaria tudo. Iria reescrever a história.
Ele só precisa de uma grande jogada de sorte para virar o jogo e se tornar o único filho de Roy digno de nota. Imagine como seria válido para ele saber que milhões de americanos entraram em uma cabine de votação e declararam legalmente que acreditam em Connor Roy? Seu pai pode tê-lo ignorado como uma criança porque ele estava muito ocupado encontrando presidentes e fechando acordos nos bastidores, mas se ele estivesse naquele Salão Oval, na única posição mais importante do que a de CEO da Waystar, onde todos estariam disputando sua atenção, ele não apenas se tornaria necessário para seu pai e irmãos, ele finalmente seria respeitado.
Mas como ele nunca venceu nada real em toda a sua vida, Connor não quer realmente fazer o trabalho. Ele só quer bancar o presidente, então ele se contenta apenas com Logan alimentando seus delírios por alguns momentos, como uma criança no Natal. Assim como com Willa, não importa se é genuíno, apenas ter o tempo e a atenção de alguém faz Connor se sentir visível. Tudo o que ele precisa é ser considerado na corrida. Ao contrário de seus outros irmãos, ele nunca foi considerado para nada por seu pai.
Mas não é sem surpresa que um homem que evita conflitos e não tem experiência de trabalho, também não seja levado a sério como candidato e mal consiga um mísero um por cento nas pesquisas. Esse um por cento agora se torna a única coisa que importa em sua vida. A única coisa pela qual ele será lembrado.
Então, para conseguir isso, ele opta por transformar seu próprio casamento em um espetáculo da mídia, pois quanto mais exposição os abutres têm ao vírus Connor, maior a probabilidade de pegá-lo. Mas no fim, como sempre, seu grande dia é abafado por uma notícia ainda maior, e ele se casa sem amigos ou familiares presentes, pois todos eles têm coisas mais importantes para fazer.
Pois essa é a história da vida de Connor Roy, seja fazendo campanha pela atenção de seu pai, ou para conseguir alguns votos, não importa o quanto ele pessoalmente precise se sentir realizado, ele sempre acaba se agarrando desesperadamente a apenas um por cento.
É assim que os criadores de Succession conseguiram criar um dos personagens mais complexos e cheios de nuances de Hollywood, realmente uma aula de construção de personagem.