Manifesto Anti-Minimalista
Arte deveria explorar o máximo, não o mínimo da experiência humana
Existe uma tendência cansativa na escrita contemporânea. Seja em filme ou livros (podemos ver de forma mais clara na literatura) o minimalismo está corroendo a criatividade. O conceito de ter uma vida minimalista é interessante, tem a ver com uma luta contra o materialismo e o gasto com coisas fúteis. Mas isso produziu na arquitetura designs frios e sem vida, e vemos a mesma coisa acontecer com a arte.
Na escrita, o minimalismo se manifesta, via de regra, em uma busca por dizer o mínimo possível, em ter uma linguagem direta e sem aquilo que os minimalistas encaram como “enrolação”.
Não estou falando do minimalismo de Hemingway. Deus, eu amo o minimalismo de Hemingway. Sua famosa "Teoria do Iceberg" propõe que o escritor deve mostrar apenas uma pequena parte da história diretamente, deixando grande parte da profundidade emocional e temática subentendida. Seu estilo é marcado por sentenças curtas, parágrafos diretos e a ausência de descrições extensas ou floreios literários, mas ainda assim mergulhado em profundidade e beleza. Para um exemplo, recomendo o conto “Colinas como elefantes brancos”, uma aula de subtexto e genialidade que eu precisei me esforçar pra conseguir entender do que se tratava.
O minimalismo que eu acredito que esteja destruindo a beleza da escrita pode ser identificado no texto abaixo (como não quero expor desnecessariamente nenhum escritor, criei um breve texto à guisa de escritor minimalista contemporâneo pra que vocês tenham uma ideia do que estou falando):
Ela abriu a porta. Chuva. Caminhou até o portão. Esquerda. Em vinte metros encontrou o gato. Deitado. Na chuva. Doente. Irritou-se. Voltou com ele no colo. Pronto, também ficaria doente. Banharam-se. Juntos. Arranhada, deitou na cama. Gato ao lado. Ronrona. Ronca.
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