Histórias estranhas e como escrevê-las
Como Neil Gaiman se tornou o rei do estranho, e o que você pode aprender com ele.
Terminei de ler hoje o livro “Deuses Americanos”, de Neil Gaiman. Não foi meu preferido do autor, mas ainda assim é um bom livro. Li também dele “Os Filhos de Anansi”, “Mitologia Nórdica”, “Coraline”, “O Livro do Cemitério”, “Alerta de Risco”, “O Oceano no Fim do Caminho”, e “Belas Maldições”, sem contar alguns contos e livros infantis. Posso dizer que, das suas obras mais relevantes, não li apenas duas: Stardust e Sandman. Também assisti a sua Masterclass e praticamente todas as entrevistas e palestras que existem disponíveis dele na internet.
Neste ponto do texto você deve estar pensando: “O Jurandir é um viciado em Neil Gaiman, um gaimanete”, mas esse não é o caso. Eu gosto, bastante, de Neil Gaiman, menos pelas histórias e mais pelo estilo. Existe uma forma de escrita que poucos escritores dominam. Eu não sei como explicar ao certo, mas ela reside na capacidade de fazer com que o estranho e o absurdo pareçam a coisa mais ordinária do mundo. Tolkien fez isso de forma poética, quando em seus livros ele descreve cenas e lugares fantásticos como se não houvesse nada de absurdo ou estranho neles, como se o público já os conhecesse.
George MacDonald, o homem que inspirou Tolkien e C. S. Lewis, também fez isso em Phantastes quando trata o mundo das fadas como algo que já se tornou familiar para o público, como se todos já tivessem visto, em algum momento, uma fada diante de seus olhos.
E essa é uma característica comum de bons escritores de fantasia ou de realidade fantástica. Salman Rushdie faz isso muito bem em seus livros, em especial em “Os Versos Satânicos” e “Cidade da Vitória”, e Gabriel Garcia Márquez leva isso à perfeição em “Cem Anos de Solidão”.
Mas a forma como Neil Gaiman faz isso é diferente. É um estilo que eu até o momento só testemunhei em escritores britânicos como Douglas Adams, Terry Pratchett, Neil Gaiman, Edgar Wright e John Connolly (este é irlandês, mas você entendeu meu ponto). Parece que os escritores daquela região beberam de algum lugar comum que ainda não consigo identificar além de Tolkien e Lewis, mas que moldou a forma como escrevem. Vou te dar alguns exemplos. Veja esta cena de Douglas Adams em seu livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias”:
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