A Arte do Storytelling no Studio Ghibli
Como o Studio Ghibli Redefiniu o Storytelling Universal e Suas Principais Lições para Contadores de Histórias
A Singularidade Narrativa
Recentemente, postei em meu canal no YouTube um vídeo sobre minha experiência após uma imersão completa no catálogo do Studio Ghibli. Após assistir aos 22 filmes, fiquei intrigado, tentando encontrar e entender mais sobre as distinções que separam este estúdio de outras produtoras de animação, incluindo a Disney. O Studio Ghibli atinge um nível de qualidade, beleza e profundidade nas histórias que redefine a animação, mostrando novas possibilidades narrativas que vão além das convenções do gênero. É sobre isso que quero refletir e me aprofundar neste artigo.
Hayao Miyazaki e Isao Takahata, os principais nomes por trás da maioria das histórias e também da produção dos filmes, têm a capacidade singular de trabalhar com elementos aparentemente contraditórios, como o místico e o mundano, o tradicional e o moderno, o pessoal, o íntimo e o universal. Suas histórias se conectam com audiências em todo o mundo e jamais subestimam a capacidade do espectador de processar narrativas mais complexas e cheias de nuances. Enquanto outros estúdios escolhem simplificar temas para torná-los mais "digeríveis" e simplistas, o Ghibli abraça a complexidade e a profundidade desses temas. Mesmo os antagonistas têm motivações compreensíveis, e os protagonistas enfrentam dilemas reais, o que faz com que as histórias tenham múltiplas camadas de interpretação, permitindo que diferentes faixas etárias e culturas encontrem significados variados nas mesmas narrativas.
Assim, o Studio Ghibli elevou a fantasia para além do entretenimento. É impossível — pelo menos foi para mim — sair ileso de um filme, sem fazer uma reflexão, e muitas vezes ser levado a questionar minhas próprias perspectivas sobre a vida, as relações humanas e nossa conexão com o mundo ao redor; algo realmente inspirador e invejável a qualquer contador de histórias.
A Estrutura Kishōtenketsu
Uma das particularidades do storytelling no Studio Ghibli é o uso da estrutura narrativa Kishōtenketsu, comum na narrativa japonesa. Diferente da estrutura ocidental de três atos, que geralmente se apoia em conflito e resolução, o Kishōtenketsu foca na evolução da história por meio de apresentação, desenvolvimento, reviravolta e conclusão.
Essa abordagem enfatiza a jornada emocional e contemplativa, permitindo uma conexão mais profunda com os personagens e os ambientes. Por exemplo, em "Meu Amigo Totoro", a trama não segue um conflito central claro, mas é construída em torno da vida cotidiana e dos pequenos mistérios que a cercam, como o surgimento de criaturas mágicas. A reviravolta, nesse caso, não é um grande clímax, mas um momento de revelação e compreensão.
A ausência de antagonismo explícito em muitos filmes do Studio Ghibli reforça a natureza desta estrutura. Em vez de uma luta clara entre bem e mal, a narrativa oferece espaço para reflexão, contemplação e apreciação dos detalhes. Filmes como "A Viagem de Chihiro" utilizam a transição entre mundos e situações para criar uma experiência de crescimento e transformação, permitindo que os espectadores se conectem emocionalmente de maneira única.
Caso queira explorar mais profundamente este conceito, recomendo assistir ao meu vídeo sobre o Kishōtenketsu, disponível no meu canal no YouTube. Lá, abordo em maior detalhe os princípios e exemplos dessa estrutura.
O Jeito Coreano e Japonês de contar Histórias - Assista Aqui
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