100 Lições de Escrita dos Maiores Autores de Todos os Tempos
Segredos, técnicas e conselhos práticos de mestres da literatura para transformar sua escrita e contar histórias inesquecíveis.
Escrever é uma arte, um ofício e, às vezes, um verdadeiro campo de batalha entre a inspiração e a disciplina. Há dias em que as palavras fluem como um rio, e outros em que encarar a tela em branco parece uma tortura. Isso acontece com todo escritor —até os mais renomados enfrentam momentos em que as palavras simplesmente não vêm.
A boa notícia? Muitos deles deixaram pelo caminho suas melhores dicas, compartilhando conselhos sobre como transformar uma ideia vaga em uma história envolvente, encontrar sua própria voz, superar bloqueios criativos e lapidar um texto até que ele brilhe. Algumas dessas ideias já me ajudaram muito e fazem total sentido para mim. Outras, confesso, não consegui aplicar à minha realidade—mas talvez sirvam para você.
Por isso, reuni abaixo as melhores dicas de grandes escritores—dos clássicos imortais aos mestres contemporâneos—pois acredito que, independentemente do seu nível de experiência, essas estratégias podem aprimorar sua escrita e ajudá-lo a criar histórias memoráveis.
1. Dicas de escrita de Andrew Motion
Andrew Motion é poeta, romancista e ex-Poeta Laureado do Reino Unido, é também conhecido por transformar o cotidiano em poesia com sua escrita sensível e precisa. Suas dicas mostram como equilibrar técnica e intuição criativa.
Descubra seu melhor horário para escrever e adapte sua rotina a ele. Criatividade tem ritmo—encontre o seu e aproveite ao máximo.
Escreva com os sentidos, não apenas com o intelecto. A boa escrita é sensorial e envolvente, não apenas conceitual.
Enxergue o extraordinário no comum. Grandes histórias podem surgir de detalhes simples, desde que você saiba observá-los.
Coloque personagens e elementos em conflito e veja o que acontece. A interação entre forças opostas gera narrativa.
Não descarte ideias por parecerem absurdas. Muitas das melhores histórias nasceram de conceitos improváveis.
Questione a ideia de que “somente os medíocres evoluem”. Crescer e mudar faz parte do aperfeiçoamento artístico.
Dê tempo para sua escrita antes de julgá-la. Um texto amadurece quando revisitado com distanciamento.
Pense grande, mas valorize os detalhes. A ambição de uma história precisa ser sustentada por especificidades bem trabalhadas.
Escreva para o futuro, não apenas para o presente. Busque relevância além das tendências passageiras.
Trabalhe duro. Talento ajuda, mas disciplina e esforço constante fazem a diferença.
2. Dicas de escrita de Annie Proulx
Annie Proulx, vencedora do Pulitzer e do National Book Award, é uma das grandes narradoras da literatura contemporânea. Com uma escrita precisa e personagens marcantes, ela mostra que boas histórias exigem tempo e dedicação. Começou a publicar depois dos 50 anos, provando que nunca é tarde para construir uma carreira literária.
Vá devagar e tenha cuidado. A pressa é inimiga da profundidade; a escrita exige tempo e dedicação.
Para garantir um ritmo mais lento, escreva à mão. Isso força um processo mais reflexivo e conectado com o texto.
Escreva lentamente e à mão apenas sobre temas que realmente te interessam. O envolvimento genuíno com o assunto melhora a qualidade da escrita.
Aprimore seu domínio da escrita com anos de leitura variada. Um bom escritor é, antes de tudo, um grande leitor.
Reescreva e edite até alcançar a melhor versão possível. Cada palavra, frase e parágrafo devem ser lapidados até atingirem seu máximo potencial.
3. Dicas para Aprimorar sua História segundo Edgar Allan Poe (…ou quase)
Edgar Allan Poe é amplamente reconhecido como um dos mestres do horror psicológico e da literatura gótica. Autor de obras icônicas como O Corvo e O Coração Revelador, também foi um crítico literário influente e pioneiro do gênero policial. Embora nunca tenha escrito essas dicas, elas são, na verdade, uma brincadeira inspirada em seu estilo. Ainda assim, capturam de forma lúdica a essência de sua abordagem literária—e provavelmente ele aprovaria essa homenagem bem-humorada.
Use um narrador não confiável, de preferência um que desconheça sua própria loucura. Quanto mais ele negar a insanidade, mais convincente será para o leitor.
Inclua uma bela mulher de pele pálida e cabelos negros—e mate-a tragicamente. Edgar sabia que poucas coisas evocam mais emoção do que a perda da beleza e da juventude.
Use um vocabulário rebuscado e poético. Palavras incomuns e de tom arcaico podem dar um ar sombrio e dramático ao texto. Use com moderação e sabedoria.
Não fuja do grotesco. Edgar explorava temas como loucura, vingança, degradação e morte de forma intensa. Se puder incluir embriaguez, reclusão ou um homem vestido de orangotango sendo queimado vivo, melhor ainda.
Quando em dúvida, enterre alguém. Se há algo recorrente na obra de Edgar, é o terror da sepultura prematura. Nada como a claustrofobia e o desespero para prender o leitor.
4. Dicas de Henry Miller
Henry Miller desafiou todas as regras ao combinar autobiografia, filosofia, misticismo e crítica social em sua escrita. Autor de Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, teve seus livros banidos nos EUA por décadas. Sua abordagem era ousada e caótica, mas também carregada de disciplina e paixão.
Trabalhe em uma coisa por vez até terminá-la. Não se disperse pulando entre projetos inacabados.
Não acrescente material novo ao que já está em andamento. Termine o que começou antes de expandir.
Não fique ansioso. Trabalhe com calma, alegria e até mesmo com ousadia. A escrita deve ser um processo livre, não uma tortura.
Siga um plano de trabalho, não seu humor. Estabeleça um horário e pare quando for a hora.
Se não puder criar, trabalhe. Nem todos os dias serão inspiradores, mas ainda assim é possível avançar.
Construa um pouco a cada dia, em vez de tentar acelerar o processo. O progresso consistente é mais importante do que explosões de produtividade.
Mantenha-se humano. Saia, converse, viaje, beba se quiser. A vida alimenta a arte, não o contrário.
Não seja um cavalo de carga. Trabalhe com prazer. Se a escrita se torna um fardo, algo precisa mudar.
Se precisar, abandone o plano por um dia, mas volte a ele no dia seguinte. Flexibilidade é importante, mas disciplina também.
Esqueça os livros que quer escrever. Foque apenas no que está escrevendo agora. Viva no presente do seu processo criativo.
Escreva primeiro, sempre. Todas as outras paixões—pintura, música, cinema, amigos—devem vir depois.
5. Kurt Vonnegut – 8 Regras Básicas para uma Boa Escrita
Kurt Vonnegut foi um dos escritores mais originais e irreverentes da literatura moderna. Em livros como Matadouro-Cinco e Cama de Gato, misturou ficção científica, humor ácido e crítica social. Seu estilo é direto, eficiente e sem firulas—e suas dicas de escrita refletem isso.
Respeite o tempo do leitor. Faça valer cada palavra para que ninguém sinta que perdeu tempo com sua história.
Dê ao leitor pelo menos um personagem para torcer. Engajamento emocional é essencial para manter o interesse.
Todo personagem deve querer algo, nem que seja um copo d’água. Desejo impulsiona a narrativa.
Cada frase deve revelar o personagem ou avançar a história. Se não serve a um propósito, corte.
Comece o mais próximo possível do fim. Evite introduções longas—vá direto ao que importa.
Seja cruel com seus personagens. Faça coisas terríveis acontecerem para que eles mostrem do que são feitos.
Escreva para uma única pessoa. Tentar agradar todo mundo enfraquece a história.
Diga ao leitor tudo o que ele precisa saber o quanto antes. Suspense não é esconder informações, mas fazer o leitor querer seguir adiante.
Grandes escritores quebram regras. Flannery O’Connor desrespeitou quase todas, exceto a primeira—e foi genial mesmo assim.
6. Dicas de Margaret Atwood
Margaret Atwood, autora de O Conto da Aia, é uma das escritoras mais influentes da atualidade. Além de romancista, também escreve poesia e ensaios. Suas dicas misturam praticidade e ironia, mostrando que a escrita exige tanto técnica quanto jogo de cintura.
Leve um lápis no avião, porque canetas vazam. Mas leve dois, pois um pode quebrar.
Tenha algo para escrever. Papel é ideal, mas, em caso de emergência, madeira ou até seu próprio braço servem.
Se usa um computador, salve tudo em um pendrive (ou na nuvem) Melhor prevenir do que perder um manuscrito inteiro.
Faça exercícios para as costas. A dor pode ser um grande inimigo da concentração.
Segure a atenção do leitor.
Você precisa de um dicionário de sinônimos, um livro de gramática e um choque de realidade. Escrever é trabalho duro e não vem com plano de aposentadoria. Escolheu esse caminho? Então pare de reclamar.
Você nunca lerá seu próprio livro com o frescor de um leitor comum. Por isso, peça a opinião de amigos—mas evite envolvimentos românticos com eles, a menos que queira terminar o relacionamento.
Se perder na história, não pare no meio da floresta. Volte ao ponto onde errou e tente outro caminho. Mude o tempo verbal, a perspectiva ou até mesmo a primeira página.
Rezar pode ajudar. Ou ler outra coisa. Ou simplesmente visualizar o Santo Graal: seu livro publicado e brilhando na prateleira.
7. Práticas de Escrita de Neil Gaiman
Neil Gaiman é um dos grandes nomes da ficção especulativa, explorando fantasia, ficção científica e horror em livros, quadrinhos e roteiros. Criador de Sandman, Coraline e O Livro do Cemitério, ele desenvolveu um estilo único e cativante. Suas dicas são diretas e incentivam a escrita intuitiva. Após as recentes denúncias, o autor tem que lidar com a realidade: não importa quão bom escritor você seja, sua obra será completamente colocada de lado se diversas mulheres te acusarem de coisas bizarras e assustadoras. Ainda assim, podemos aprender muito, ao menos com sua vida profissional.
Escreva. Parece óbvio, mas muitos aspirantes passam mais tempo falando sobre escrever do que realmente escrevendo.
Coloque uma palavra após a outra. Encontre a palavra certa e siga em frente. O texto cresce palavra por palavra.
Termine o que começou. Faça o que for necessário para concluir. Histórias inacabadas não contam.
Dê um tempo, depois releia com um olhar novo. Depois, peça opinião de pessoas que apreciam o tipo de história que você está contando.
Escute críticas, mas com filtro. Se alguém diz que algo não funciona, provavelmente tem razão. Mas se sugerem como corrigir, nem sempre estão certos.
Revise e melhore, mas saiba a hora de parar. A perfeição é inatingível. Em algum momento, você precisa deixar o texto ir e começar outro.
Ria das suas próprias piadas. Se você não gosta do que escreve, dificilmente os outros gostarão.
Escreva com confiança e honestidade. Não há regras fixas. Se sua história precisa ser contada de um jeito específico, confie na sua intuição e escreva como deve ser escrita.
8. Zadie Smith – 10 Hábitos Essenciais para Escrever Bem
Zadie Smith se destacou no mundo literário ainda jovem com Dentes Brancos, um romance sobre a diversidade cultural de Londres. Além de escrever ficção, também é uma ensaísta afiada. Suas dicas são diretas, sem romantizar a escrita, e focadas na disciplina.
Leia muito desde criança. Passe mais tempo lendo do que fazendo qualquer outra coisa.
Leia seu próprio trabalho como um estranho—ou melhor, como um inimigo. Distanciamento crítico é essencial para enxergar falhas.
Não romantize a escrita. Ou você escreve boas frases ou não. O “estilo de vida do escritor” não importa, apenas o que está na página.
Evite suas fraquezas, mas sem desprezá-las. Não transforme suas limitações em arrogância para mascarar inseguranças.
Dê um tempo entre escrever e editar. Distância temporal ajuda a ver o texto com mais clareza.
Evite panelinhas e grupos literários. Estar cercado por outros escritores não melhora sua escrita.
Escreva em um computador desconectado da internet. A distração é o maior inimigo da produtividade.
Proteja seu tempo e espaço de escrita. Afaste-se de todos, até mesmo das pessoas mais importantes para você.
Não confunda prêmios e reconhecimento com realização. O que importa é o trabalho em si, não as honrarias.
Diga a verdade, seja qual for a forma que encontrar para isso. E aceite que nunca estará completamente satisfeito com o que escreveu.
9. Reflexões sobre a Escrita de Tracy Kidder e Richard Todd
Tracy Kidder é um mestre do jornalismo literário, famoso por transformar histórias reais em narrativas envolventes. Richard Todd, editor experiente, trabalhou com inúmeros escritores ao longo da carreira. Juntos, escreveram Good Prose: The Art of Nonfiction, ainda sem tradução para o português, mas que é um guia repleto de insights sobre a arte da escrita.
Escrever é conversar com estranhos.
Lembre-se: você não é Tolstói nem Dickens. Manter a humildade evita pretensões desnecessárias.
Não se concentre na técnica ao ponto de se tornar autocentrado. A história deve estar em primeiro lugar.
O leitor quer ver você buscando algo, não tentando impressionar. Escrita autêntica vale mais do que escrita exibicionista.
Uma história só precisa ter algo em jogo para ser envolvente. Perseguições de carro não são obrigatórias.
Preste atenção ao som do seu próprio texto. Se algo não soa natural ao ser lido em voz alta, talvez precise ser reescrito.
O estilo nasce do que você decide não usar. Rejeitar o que vem fácil ajuda a encontrar sua própria voz.
Palavras usadas sem critério fazem você desaparecer. Mas escolhidas com precisão, constroem sua identidade.
O melhor trabalho acontece quando o foco está na escrita, não em suas consequências. Escreva pelo prazer e pela necessidade de contar, não pelo reconhecimento.
Esteja aberto a se surpreender. O processo de escrita deve ser exploratório, não apenas planejado.
10. Ronald Knox – Os 10 Mandamentos da Ficção Policial
Ronald Knox foi um escritor de mistério e membro do lendário Detection Club, ao lado de nomes como Agatha Christie e G.K. Chesterton. Para garantir que as histórias de detetive fossem envolventes e justas com o leitor, criou um conjunto de regras que se tornou referência no gênero.
O criminoso deve ser apresentado no início da história. Nada de assassinos que aparecem do nada no final.
Elementos sobrenaturais são proibidos. A solução deve ser lógica, não mágica.
Apenas um segredo arquitetônico é permitido. Túneis e passagens ocultas são aceitáveis, mas sem exageros.
Venenos desconhecidos e explicações científicas mirabolantes não são permitidos. O crime deve ser solucionável pelo leitor.
Evite personagens chineses misteriosos. (Essa regra reflete estereótipos da época e hoje é amplamente desconsiderada.)
O detetive não pode resolver o caso por acidente ou intuição inexplicável. A investigação deve seguir pistas concretas.
O detetive não pode ser o criminoso. O leitor deve confiar na figura central da investigação.
Todas as pistas encontradas devem ser apresentadas ao leitor. Não pode haver informações ocultas.
O ajudante do detetive (o Watson) não pode esconder pensamentos do leitor. Ele deve ser ligeiramente menos inteligente que a audiência, mas sem exageros.
Gêmeos e sósias só podem aparecer se forem mencionados desde o começo. Nada de truques baratos no final.
11. Dicas de Escrita de Joyce Carol Oates
Joyce Carol Oates é uma das escritoras mais produtivas da atualidade, com mais de 40 romances e inúmeros contos. Sua obra explora temas intensos como violência, pobreza e conflitos sociais. Suas dicas de escrita são diretas, cheias de ironia e mostram a força do seu processo criativo.
Escreva com o coração.
A primeira frase só pode ser escrita depois da última.
Você escreve para os seus contemporâneos, não para a posteridade. Se tiver sorte, seus contemporâneos se tornarão posteridade.
Lembre-se de Oscar Wilde: um pouco de sinceridade é perigoso, e muita sinceridade é fatal. Saber dosar emoções é essencial.
Se não souber como terminar um capítulo, traga um homem com uma arma. (Dica de Raymond Chandler, mas Oates sugere não seguir à risca.)
Parágrafos importam. A menos que esteja experimentando com formas complexas, preste atenção no fluxo do texto.
Seja seu próprio editor e crítico. Compreensivo, mas impiedoso.
Não tente prever seu leitor ideal. Ele pode nem existir—e, se existir, pode estar lendo outra coisa.
Leia, observe, escute intensamente, como se sua vida dependesse disso. Escritores precisam absorver o mundo ao redor.
Escreva com o coração. (Sim, ela reforça esse ponto duas vezes.)
12. Dicas de P.D. James
P.D. James é um dos grandes nomes da ficção policial e a mente por trás do detetive Adam Dalgliesh. Seus livros se destacam por tramas envolventes, personagens bem construídos e uma escrita elegante. Para ela, escrever bem exige disciplina, leitura atenta e paciência.
Aprimore seu vocabulário. As palavras são a matéria-prima da escrita. Quanto maior seu repertório, mais eficaz será seu texto.
Leia muito e com discernimento. Escrita ruim é contagiosa, então escolha bem suas influências.
Não planeje apenas escrever—escreva. O estilo não se desenvolve na teoria, mas na prática diária.
Escreva o que precisa ser escrito, não o que está em alta. Tendências passam; uma história autêntica é atemporal.
Mantenha a mente aberta para novas experiências e para o estudo das pessoas. Tudo o que acontece a um escritor—seja feliz ou trágico—pode ser transformado em material literário.
Conclusão
Cada escritor tem seu próprio processo criativo, e não existe uma única fórmula para escrever bem. Algumas dessas dicas podem fazer sentido para você, enquanto outras talvez não se encaixem no seu estilo ou rotina. O importante é experimentar, testar diferentes abordagens e descobrir o que realmente funciona para a sua escrita.
A única regra com a qual todos os grandes escritores concordam? Escreva. O aprendizado acontece na prática, e a melhor maneira de evoluir é simplesmente colocar as palavras no papel—e depois reescrevê-las quantas vezes forem necessárias, até que se tornem a melhor versão possível da sua história.
Agora é com você: qual dessas dicas mais te inspira? Quais delas você já aplicou na sua própria escrita?
Adorei o post!!
Excelente compilado! Já separei aqui para ler com calma. Obrigado.